As árvores "andarilhas" de Sumaco parecem saídas de um livro da trilogia "O Senhor dos Anéis"

A viagem de Quito, a capital do Equador, até a Reserva de Sumaco, a viagem não é fácil. São três horas de carro até a entrada da floresta e, a partir dali, entre sete e 15 horas de barco, no lombo de mulas e a pé. A maior parte do percurso é ladeira acima e em estradas lamacentas.
Mas o esforço vale a pena, levando-se em conta que você chega a uma floresta pristina, onde fica um achado pouco usual: arvores que "andam".
Assim como as Ents, árvores mágicas do épico literário e cinematográfico O Senhor dos Anéis, essas árvores realmente se movem pela floresta à medida que o crescimento de suas raízes promove uma realocação, normalmente entre 2 cm e 3 cm por dia.
“O solo erode, e as árvores desenvolvem novas raízes que buscam solo mais sólido, o que pode chegar a 20m”, explica Peter Vrsansky, biólogo e paleontólogo da Academia de Ciências de Bratislava, na Eslováquia.
Invasão
“A partir daí, as raízes se fixam no solo, e as arvores se dobram pacientemente em direção às novas raízes, enquanto as velhas se erguem do solo. O processo para uma árvore ir para um lugar com melhor luz solar e solo mais sólido pode demorar alguns anos”.
Vrsansky, ao lado do conservacionista Thierry Garcia, passou os últimos meses vivendo na floresta, documentando as ameaças a suas maravilhas biológicas. “Descobrimos cachoeiras, uma espécie nova de lagarto e outra de sapo, e fomos atacados por macacos peludos."
Apesar de ter perdido 10kg em uma semana, Vrsansky diz que os resultados da exploração compensaram. Em apenas um trecho da floresta ele descobriu 150 espécies de baratas – mais do que as existentes na Europa. Algumas delas se camuflavam e mesmo brilhavam no escuro.
Por incrível que pareça, essa floresta está à venda, como parte de um programa de reforma agrária, que permite a fazendeiros locais cortar madeira para obter terra. “O esquema funciona da seguinte maneira: as pessoas vêm, cortam madeira e conseguem um terreno. Cinco anos depois, podem vendê-lo”, diz Vrsansky.
Até o momento, a floresta ainda não foi invadida de maneira significativa porque um xamã local diz que há um mau espírito em algumas partes da reserva, que também é cheia de insetos, inclusive os que transmitem doenças. Quem está realmente comprando terrenos são grupos de ambientalistas. Um hectare de mata custa menos de US$ 500 e apenas Garcia já comprou mais de 300.
Vrsansky explica: “Garcia não é rico, mas agora protege sua águia, seu jaguar e mais de 10 mil espécies de artrópodes e ainda tem sua cachoeira”.
Outras estratégias são vender trechos maiores para universidades de institutos de pesquisas. Ou mesmo para turismo ecológico, já que a reserva tem desde a biodiversidade a vulcões ativos.
Desde 2010, cerca de 200 hectares de floresta foram derrubados perto da Reserva Bigal, uma estação de pesquisas do governo francês em Sumaco. Em outra parte da reserva, milhares de hectares foram afetados pela construção de uma estrada, em 1986.
“As árvores não andam rápido o suficiente para fugir das motosserras”, reclama o biólogo.

Fonte

BBC Brasil

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