Thiago Moreno

Em meio à retração interna, o setor conseguiu aumentar os ganhos com mais embarques, alta da commodity e câmbio valorizado. China impõe cautela em 2016, mas não deve mudar o cenário

O perfil exportador das indústrias de papel e celulose levou o setor a andar na contramão da economia brasileira, terminando o último ano com crescimento. Esse cenário deve permanecer em 2016, apesar da preocupação com a desaceleração da China.Analistas da corretora Socopa avaliam que o aumento dos preços em dólar da celulose no mercado externo e a expressiva valorização da moeda americana frente ao real levaram ao forte desempenho da receita líquida do segmento em 2015. Segundo a média das projeções de mercado reunidas pelo corretora, o faturamento consolidado do setor soma R$ 7,3 bilhões só no quarto trimestre, resultado 35% maior ante o mesmo período de 2014.

As margens da operação das empresas também cresceram, segundo a equipe da Socopa, porque boa parte dos custos de produção é denominada em real, enquanto a receita é calculada em dólares. O lucro líquido do setor como um todo deve alcançar cerca de R$ 1,7 bilhão entre outubro e dezembro, projetaram os analistas, em relatório.

A decisão da Klabin de direcionar parte de sua produção para o mercado internacional foi o que levou a empresa a registrar resultados considerados sólidos no ano passado. Os volumes de exportação da companhia cresceram 52% entre o quarto trimestre de 2014 e os últimos três meses de 2015, alcançando 190 mil toneladas.

A companhia divulgou ontem seus resultados financeiros de 2015, ano no qual registrou um prejuízo líquido de R$ 1,25 bilhão, mas alcançou um crescimento de 16% em sua receita líquida, que chegou a R$ 5,7 bilhões. A diferença, segundo os analistas Gabriela Cortez e Victor Penna, do BB Investimentos, se explica pelo impacto da desvalorização do real e da inflação brasileira sobre os gastos da empresa com sua dívida e com a compra de energia e combustíveis.

A International Paper teve lucro líquido de US$ 938 milhões em 2015 ao redor do mundo. Sobre o mercado brasileiro, a empresa destacou ontem o aumento dos volumes de venda de papel para imprimir e escrever, por motivos sazonais . Só no País, o grupo registrou crescimento de 6,9% nas vendas do segmento, para 342 mil toneladas.

Preços pressionados

Em relatório, a equipe do BB Investimentos avalia que a demanda por celulose nos mercados europeu e asiático deve continuar forte em 2016, mas a desaceleração na China pode afetar os preços da commodity, dificultado a fixação de valores maiores do que os colocados no ano passado. Desde outubro de 2015, empresas têm reportado que fabricantes chineses de papel fazem pressão para reduzir os preços do insumo que entra no País.

Para a Fibria, entretanto, os movimentos para forçar a redução dos preços do insumo não refletem a realidade do mercado. Não acreditamos que a redução dos volumes de venda de celulose na China seja sustentável , disse o diretor comercial da empresa, Henri Philippe van Keer, durante apresentação dos resultados do quarto trimestre de 2015.

Impulso na demanda

Segundo a coordenadora de relações com investidores da Eldorado Brasil, Camila Anker, a mudança de paradigma na China também pode ser favorável para a indústria de celulose, uma vez que o país asiático passa a ser mais focado na demanda interna e promove o aumento de renda da população e uma maior urbanização. O que vemos, na verdade, é uma mudança de conduta do governo chinês, que passa a favorecer o consumo interno, e isso tem efeito positivo para aprodução de papel, sobretudo nos segmentos de imprimir e escrever e sanitários , diz ela.

A Eldorado divulgou, na semana passada, ter registrado lucro líquido de R$ 280,6 milhões. De acordo com Camila, o desempenho positivo foi impulsionado também pelas reduções de custos operacionais obtidas a partir da inauguração de um terminal portuário em Santos (SP) e da transferência de todas as florestas da companhia para o Mato Grosso do Sul, mais próximas da linha de produção.

O mercado fica no aguardo agora do balanço da Suzano, que sai no final do mês. O mercado projeta que a companhia deve ter obtido receita de R$ 2,8 bilhões no quarto trimestre e lucro de R$ 497 milhões.
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