Tecnologia protege o cafeeiro contra vento e excesso de sol e apresenta resultados como a redução da temperatura ambiente, aumento da fertilização do solo e melhora da qualidade da bebida

Em busca de tecnologias que amenizem os efeitos das mudanças climáticas na cafeicultura, pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) estudam alternativas como a arborização de cafezais. Essa tecnologia apresenta ótimos resultados na redução da temperatura ambiente, aumento da fertilização do solo e até mesmo na melhora da qualidade da bebida.

“As alterações climáticas têm trazido incertezas quanto à produção e à produtividade, mas há como minimizar esse impacto. O cafeicultor pode adotar técnicas como irrigação, sombreamento do café, adubação fosfatada e gessagem que farão toda diferença na redução de perdas nas próximas safras”, ressalta o coordenador do Programa de Cafeicultura da Epamig, Gladyston Carvalho.

Estudos de arborização no café realizados na Fazenda Experimental da Epamig em São Sebastião do Paraíso, há mais de 10 anos, apontaram bons resultados no cultivo consorciado da variedade de café Catuaí vermelho e macadâmia. De acordo com o pesquisador da Epamig Régis Venturin, a árvore sombreia o café, amenizando as altas temperaturas durante o dia e mantém a temperatura mínima da madrugada mais alta. “Também pode ser uma proteção contra vento e geada”, explica. Entretanto, o pesquisador alerta que “algumas espécies arbóreas podem não se adaptar com o cafeeiro e reduzir a produtividade, por isso é importante o monitoramento e acompanhamento técnico”.

Epamig e parceiros estudam o consórcio de café e cedro em Santo Antônio do Amparo

“Por exemplo, a macadâmia tem a raiz mais profunda e, portanto, alcança nutrientes no solo que o cafeeiro não consegue, evitando a competição das espécies nos primeiros anos do consórcio” explica Rodrigo Luz, pesquisador da Epamig e coordenador do projeto. O sistema arborizado também inibe o crescimento de mato e plantas daninhas em torno do cafeeiro, devido à formação da serrapilheira, cobertura que recobre o solo por acúmulo de folhas e ramos que vão se decompondo no solo. “Os estudos mostram que essa cobertura, preserva a umidade do solo e favorece os processos de crescimento, florada e produção do café. Em período de alta temperatura e estiagem, eu diria que ela é fundamental”, complementa o pesquisador.

Nesses experimentos, a produtividade mais equilibrada do consórcio - 40 sacas por hectare - ocorreu com uma população de 286 árvores por hectare e 5428 cafeeiros. Entretanto, o pesquisador ressalta que a partir de 10 anos desse consórcio, é preciso uma avaliação da produtividade do café, que pode ser reduzida, devido a competição dessas plantas por luz, umidade e espaço.

Outro aspecto positivo é a redução do ataque de bicho mineiro e a menor incidência da cercosporiose, mas o sombreamento pode aumentar a ocorrência de outras doenças. “A recomendação é o plantio de variedades de café resistentes à ferrugem. E mesmo assim é preciso monitorar os talhões, porque também observamos um favorecimento da broca-do-café” diz.

Isaac Ribeiro Gabriel implantou há mais de 20 anos consórcio de café e macadâmia

Na Fazenda São Gabriel, em Guaxupé na região Sul de Minas, a presença de árvores poupou parte da lavoura da escaldadura do café, queima da folha por excesso de sol. O sombreamento no café foi gerado por espécies nativas de amoreira e pessegueiro, cujos frutos não são consumidos pelo homem, e também um tipo de macadâmia, frutífera de origem australiana. “Há mais de 20 anos iniciei o cultivo consorciado de café com a macadâmia”, conta Isaac Ribeiro Gabriel, que produz cafés especiais há 15 anos.

O produtor destaca que o sistema equilibra a mão de obra da fazenda: no intervalo da colheita do café, os trabalhadores cuidam da colheita da macadâmia e da manutenção da produção. “Mas o mais importante é o controle da insolação. Embora a minha lavoura esteja localizada em região de microclima favorável, a falta de chuva no início do ano poderia ter causado um estrago bem maior na minha lavoura, se não fossem as árvores”, conta Gabriel.

Isaac iniciou o consórcio com o objetivo de diversificar sua renda. “Comecei com 50 hectares. Atualmente, retirei o café desta área devido à dificuldade na colheita da castanha, mas já tenho outra área de cultivo consorciado com cinco anos”. De acordo com Isaac a castanha da macadâmia é vendida em casca para microprocessadoras e indústria alimentícia. Os subprodutos são reaproveitados em sua fazenda: a casca que envolve o fruto abastece a caldeira da torrefadora de café, e a casca mais externa, chamada carpelo é usada como fertilizante no cafeeiro.

Isaac comemora o bom resultado: “Temos certificação internacional e, atualmente, a marca de cafés especiais Arte Café está presente em 21 capitais”. Para ele o cultivo consorciado é também uma forma de produção inteligente. “Considero sustentável uma ação na qual meu filho ou meu neto poderá fazer mais e melhor do que eu”.

Fonte

Portal Dia de Campo

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