Com a volta da oferta de água, subprojetos do Rio Rural, programa da secretaria estadual de Agricultura, estão começando novamente a ser implantados. São incentivos ambientais que fazem parte do rol de boas práticas do programa, que ainda não haviam sido executados em razão da estiagem. Pelo menos 600 subprojetos estavam na fila de espera para execução.

Uma dessas ações é a recuperação de mata ciliar, porção de vegetação que margeia os rios, formando uma espécie de corredor verde que funciona como proteção natural contra o assoreamento.

“Nós temos um compromisso com o agricultor, mas existem ações que dependem das condições climáticas. Se a gente tivesse feito algumas delas antes seria como jogar dinheiro fora. Até o produtor que tinha sistema irrigação ficou sem água” explicou o extensionista rural Luiz Carlos Guimarães, que trabalha no escritório da Emater-Rio na região Norte. Com a falta de chuvas, os viveiristas que produzem as mudas para os subprojetos ficaram com a produção parada e somente agora estão retomando as atividades também.

Novo ânimo para a produção

Um dos agricultores que estão esperançosos com a temporada de chuva é José Carlos dos Santos, da microbacia Morro do Coco/Ribeirão Grande/Valão Sucupira, no assentamento Dandara dos Palmares, em Campos. Ele trabalha, principalmente, com o plantio de mandioca e abacaxi, que são vendidos para a capital fluminense e para o estado de São Paulo. Na propriedade dele, estavam reservados 2.500 m² para a implantação de um sistema agroflorestal (SAF).

Grande parte dos subprojetos em implantação tem como objetivo diminuir os efeitos da estiagem que podem ocorrer nos próximos anos. No SAF, a área serve tanto para a produção, com o cultivo de árvores frutíferas, como para a preservação ambiental.

“Minha maior esperança é que isso traga água de novo. Hoje falta até água para beber. Minha única solução no momento foi fazer um poço artesiano. De agora em diante é reflorestar, plantar, para cuidar da natureza e ver se um dia volta aquilo que era antes. Tinha água cristalina que corria direto na nascente” lembrou José Carlos.

A implantação de um sistema agroflorestal custa em torno de R$ 1.150 e inclui a compra de arames (para isolamento da área), mudas, moirão e fertilizante orgânico.

“Eu não teria condições de fazer isso sozinho. Este ano a seca me deu muito prejuízo. Até agora, estou com 50 toneladas de mandioca estocadas porque o preço de mercado está ruim e não vale a pena vender. Então, essa ajuda é boa para mim” conclui o agricultor.

Mitigação dos efeitos da estiagem

A explicação de seu José faz sentido. As ações implantadas a partir de agora terão impacto positivo no futuro, pois algumas dessas práticas têm ligação direta com a nutrição do solo e a consequente absorção de água.

“A área de recarga, por exemplo, é uma grande caixa dágua. Se o solo está degradado, 80% da água vão embora rapidamente. Com a proteção do terreno, cheio de vegetação, a caixa dágua fica cheia por mais tempo. A água se infiltra no solo devagar, formando pequenastorneiras debaixo da terra, que vão alimentando nascentes de rios e córregos” explicou o técnico executor do Rio Rural, Bartholomeu Gusmão.

O resultado do investimento no solo para o melhoramento da absorção de água é um processo de médio prazo.

“Acreditamos que em três anos os produtores já poderão ter uma recompensa ambiental mais palpável. Demora um pouco, mas é necessário começar” disse Bartholomeu. O técnico também informou que o ideal é que os subprojetos sejam executados até abril, quando termina o período chuvoso na região.

Preservar para as futuras gerações

Moradora da mesma microbacia de José Carlos, a produtora Damiana Viana já percebeu os benefícios da área de recarga. Ela tem um sítio de 15 hectares há 12 anos e investe na plantação de milho, abóbora e hortaliças. Uma parte da propriedade era reservada para a criação de gado. Há seis meses, depois de começar a participar no Programa Rio Rural, ela cercou essa área e mudou o rebanho para outro local.

“O gado pisoteava tudo. O solo estava fraquinho e a área pelada, sem um verde quase. Agora, as brotações estão se recuperando. Até o clima aqui está ficando diferente” enfatizou Damiana.

Os recursos para o subprojeto que prevê a proteção da área de recarga de 2.500 m² foram liberados há dois meses, logo quando a chuva voltou com mais intensidade na região. Ela fez o plantio de árvores nativas como ipê e monjolo, além de frutíferas como açaí, pitanga e jaca.

“A minha ideia é conseguir fechar essa mata com essas árvores, produzir sombra, alimento e esperança. As nossas famílias aprenderam a desmatar. Agora é a nossa vez de reformar a natureza. Me preocupo com o futuro dos meus filhos e netos, que vão precisar de muita água” disse ela.

FONTE

Governo do Rio de Janeiro

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