Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) anunciaram terem descoberto o provável causador do que tem sido conhecido como “Soja Louca 2”. Depois de pelo menos quatro anos de estudos, concluiu-se que está associada à ocorrência do nematoide Aphelencoides sp., invisível a olho nu, mas com um alto poderio destrutivo.

doença impede a formação das vagens e a finalização do ciclo produtivo. “O Aphelencoides se instala no ponto onde a planta vai formar o ramo onde ficará a vagem”, explica a pesquisadora de Epamig, Luciany Favoreto, especialista nesse tipo de nematoide, já identificado também em culturas como arrozcrisântemoamendoim feijão (caso registrado na Costa Rica).

Além de muito pequeno, tem alta capacidade reprodutiva. Em condições consideradas ideais, criadas em laboratório, um deles pode chegar a 250 em 30 dias. Além disso, alimenta-se basicamente de fungos e tem alta capacidade de sobrevivência. Se não encontra alimento, reduz o seu metabolismo. “Há relatos desse nematoide sobrevivendo até dez, onze anos dentro de uma semente”, alerta Luciany.

Atacada, a planta permanece com sua massa verde. “Não produz vagem e esse verde fica mais intenso. As folhas ficam deformadas e enrugadas”, acrescenta o pesquisador da Embrapa Soja, Maurício Meyer, que apresentou o trabalho durante o 7º Congresso Brasileiro de Soja, em Florianópolis (SC). Talhões inteiros podem ficar improdutivos. Quando isso não acontece, a massa verde aumenta o nível de impurezas na soja, causando perda financeira ao produtor.

Para chegarem ao provável causador, inicialmente, os pesquidores descartaram a possibilidade de ácaro ou vírus. Só em 2012 foi considerada a possibilidade de um nematoide atacando a parte aérea da planta, o que, de certa forma, surpreendeu os pesquisadores, já que a maior parte dos testes para nematoides são feitos para solo raízes das plantas.  Identificado, o Aphelencoides foi isolado e colocado em plantas sadias, sendo constatada sua influência na manifestação da soja louca 2.

“Uma lição que essa pesquisa deixa é atentar para parte aérea da planta”, diz Meyer. “Não quer dizer que esse tipo de análise, no caso de nematoides, vá ficar mais frequente. Isso vai depender do aparecimento dos sintomas”, acrescenta. Segundo o pesquisador, a maior incidência foi detectada no Maranhão, Pará, Tocantins e norte de Mato Grosso.

Manejo

Encontrar a relação do nematoide com a soja louca 2 é só “a ponta do iceberg”, afirmam os pesquisadores.  Identificado o gênero, o trabalho agora é investigar a espécie de Aphelencoide que efetivamente ataca a lavoura de soja. Atualmente, são catalogadas 180 espécies. As etapas seguintes da pesquisa visam também estabelecer mecanismos de controle da praga ou até mesmo encontrar algum princípio ativo que possa ser usado.
                                                                                                                    Maurício Meyer acredita que o manejo da área deve ser a primeira linha de atuação. Segundo ele, há indícios de que o gradeamento da área, em que a terra é revolvida e a cobertura vegetal é integrada ao solo, mas não há nada conclusivo. “No entanto tem que ter cuidado com isso porque troca um benefício de sustentabilidade do plantio direto por uma ação mais imediatista”, diz. “E pode até combater o aphelencoide, mas, por outro lado, revolver o solo ajuda a espalhar outros nematoides. Tem que estudar muito ainda”, acrescenta Luciany.

nematoide-soja-louca-2-doença-praga-Aphelencoide (Foto: Divulgação/Epamig)

Outra linha deve ser a identificação e controle de plantas daninhas que podem servir de hospedeiras ou ajudar a criar ambiente favorável ao aparecimento do nematoide. “Já se sabe o agente e o que ele pode causar na soja, mas ainda é cedo para identificar as consequências no sistema produtivo como um todo”, explica Meyer.

Os pesquisadores pretendem também mudar o nome “soja louca 2”, dado por causa de doença com sintomas semelhantes, identificada nos anos 1970 e associada a ataque de percevejos e falta de nutrientes. Uma das sugestões é haste verde da soja. “Mas como esse nome também é muito genérico, temos que pensar em algo que esteja associado ao nematoide. Temos algumas sugestões”, diz Meyer.



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